É razoavelmente consensual para cada um de nós que ter uma estratégia é fundamental. Seja nas empresas ou noutras organizações, nos governos ou na vida de cada um. É a estratégia que nos traz o norte e nos recorda, a cada momento, para onde vamos e com que objetivos.
Quando falamos em concreto do mundo empresarial, sabemos que o pensamento estratégico é uma componente absolutamente crucial, que se pretende transversal às organizações, mas que deve ser prioritária sobretudo para as lideranças.
Investir tempo e recursos em pensar e ajustar a estratégia de uma empresa traz consigo uma lista considerável de potenciais benefícios. Estimula a proatividade dentro da organização (por oposição à mera reatividade), define uma direção para a organização e para os seus colaboradores, promove a noção de responsabilidade partilhada entre os vários quadros, o que fomenta a motivação do pessoal e a retenção de talentos. Uma política de gestão estratégica ajuda a organização e a sua liderança a pensar e planear a sua existência futura e a monitorizar e testar continuamente o seu funcionamento, contribuindo para o sucesso e crescimento da empresa.
Definir o foco na estratégia como prioritário traduz, sobretudo, uma mentalidade e forma de estar na gestão. Revela a existência de uma liderança que apreende e aceita a incerteza e a ambiguidade inerentes ao mundo dos negócios, e que, portanto, compreende que a necessidade da flexibilidade e da capacidade de adaptação, por oposição a uma linha de gestão rígida e desajustada à volatilidade dos tempos que vivemos.
No entanto, pese embora, em teoria, todos concordem com a importância da estratégia, a realidade não traduz muitas vezes o que é defendido em abstrato.
Definir a estratégia como algo prioritário não significa necessariamente ter de despender uma imensidão de tempo com a mesma. Até porque é sabido que o mero ato de gastar mais tempo em algo não é sinónimo de melhores resultados. O tempo gasto deve ser eficiente.
Por outro lado, há que ter em conta que a estratégia não é igualmente importante para todos numa organização e nem todos podem ou devem contribuir igualmente para o plano definido. Fruto da função que ocupam e das suas responsabilidades, a gestão executiva irá necessariamente dedicar-lhe mais tempo que as chefias intermédias e estas mais do que os restantes colaboradores.
Por outro lado, dedicar tempo à estratégia não passa apenas por definir um plano, comunicá-lo e considerar a tarefa concluída. Implica supervisionar a sua execução, aferir como está a ser implementado pelas equipas, se está a trazer os resultados esperados e se existem alterações de contexto supervenientes que obriguem à sua revisão.
Um plano estratégico deve ser um documento vivo e um processo dinâmico que orienta, responde e ajuda a concretizar metas e a que a gestão e os colaboradores recorrem regularmente como orientação para o seu trabalho.
A estratégia cria coerência e foco numa organização. É o que integra e alinha as diferentes partes de uma empresa, as suas várias áreas de atividade, equipas e colaboradores. Ajuda a manter uma estrutura sólida e fluida, que opera em torno de objetivos comuns.
Pensar uma estratégia envolve fazer escolhas sobre o que fazer e o que não fazer, e sobre como fazê-lo. Sem estratégia, as organizações tendem a vaguear em todas as direções com recursos, tempo e dinheiro dispersos por muitas iniciativas, nem sempre com grande critério.
Por outro lado, a estratégia é também uma fonte de estabilidade. Constitui um ponto de referência num mundo em permanente mudança e ajuda a fazer com que, apesar do rebuliço das atividades do dia-a-dia, todos tenham presente o que é mais importante.
Se bem desenhada, executada e acompanhada, a aposta na estratégia traz também como consequência o envolvimento e motivação das pessoas, já que as ajuda a entender o que leva a organização a fazer o que faz e qual o papel do trabalho de cada um em prol desse mesmo objetivo.
Se os líderes das empresas concordam que a estratégia é fundamental para o sucesso da organização e sabem que estas são tarefas primordialmente suas, porque é que tantas vezes não passam das intenções aos atos?
Vários são os motivos que podem ajudar a explicá-lo. A começar pelas tarefas operacionais – não estratégicas – que tendem a absorver muito tempo e atenção, em particular das equipas de gestão e chefia. Se é verdade que, no dia-a-dia, é a tomada de decisões e resolução de problemas que mantém as empresas a funcionar, o risco de se perder a capacidade de gerir de forma mais estratégica e de médio e longo prazo é grande. E, como vimos, o planeamento estratégico é menos sobre a quantidade de tempo a ele dedicado e mais sobre a qualidade do mesmo. Existe, por outro lado, sempre a possibilidade de uma maior delegação ou terciarização de tarefas para que as lideranças possam focar-se nas áreas onde fazem, efetivamente, diferença.
Acresce que é necessária determinação e resiliência para persistir nas iniciativas estratégicas, já que os seus resultados e retorno para o negócio não são visíveis no imediato. Outro fator que pode ser prejudicial está relacionado com a cultura ainda vigente no mundo dos negócios e em países como Portugal que associa o profissionalismo e dedicação ao dispêndio de muitas horas no trabalho. É, aliás, frequentemente visto como sinal de sucesso profissional o estar-se num permanente estado de grande frenesim, com agendas muito cheias de compromissos e múltiplas tarefas para executar.
Ainda não chegámos – se é que algum dia vamos chegar – ao tempo em que é a Inteligência Artificial quem desenha planos e traça estratégias. É, portanto, necessário que as empresas tenham disponibilidade e noção da importância de ter tempo e espaço para o fazer.
Ter uma boa ideia, refletir, encontrar soluções e tomar decisões implica espaço. Espaço não só temporal, mas também psíquico.
Enquanto gestor e, sobretudo, enquanto líder de uma empresa, o compromisso com o pensamento estratégico regular é fundamental para o sucesso de um negócio, por mais que as exigências operacionais tendam a meter-se pelo caminho.